domingo, 7 de setembro de 2008

História de Che

Ernesto Guevara de la Serna nasceu em 14 de Junho de 1928, em Rosário, Argentina, primeiro dos cinco filhos de Ernesto Lynch e Celia de la Serna y Llosa, família de origem aristocrática, donos de terras. A mãe descendia do último vice-rei do Peru e casou com Ernesto (pai), estudante de arquitectura, em 1927. Embora de família tradicional que aos poucos foi perdendo a sua riqueza, Che passou sua infância como menino típico de família de classe média, nunca se preocupando muito com a política. Celia teria papel importante na formação de Che, só inferior ao de Fidel Castro, conforme os biógrafos. Mesmo de educação católica, mantinha em casa um ambiente de esquerda, sempre cercada de mulheres politizadas. Ela é que cuidaria da educação do primogénito, o pai era muito amigo dos filhos, mas era mais distante e gostava da vida boémia. Passaria para o filho porém, o gosto pelo desporto
Che nasceu de oito meses, débil, aos quarenta dias de vida teve pneumonia e antes dos dois anos já sofria a primeira crise de asma.
A família mudava muito de cidade, em busca de um clima melhor para o garoto, até parar em Alta García, na região serrana de Córdoba, onde ele vai crescer. Ficava muito em casa, até de cama, por causa da asma, e assim começou a gostar de literatura: Julio Verne, Baudelaire, António Machado, Cervantes, García Lorca, Pablo Neruda e outros clássicos passam a fazer parte de seus universos, embora esse último tenha o influenciado muito a política e a filosofia.
Era bom aluno, estudando em escola pública, frequentada por meninos da cidade e da roça, remediados e pobres, e sempre teve facilidade imensa de relacionamento com os outros, já exercitando sua capacidade de liderança.
A adolescência será marcada fortemente pela Guerra Civil Espanhola e depois pela segunda Guerra Mundial, quando o pai forma a Acção Argentina , organização antifascista em que inscreve o filho.
Em Córdoba começa a jogar rugby, ténis, golfe, além de se dedicar à natação. Nessa cidade fica amigo dos irmãos Tomás e Alberto Granado, colegas de colégio com os quais viverá grandes aventuras. No colégio, revela-se bom em literatura e filosofia e medíocre em matemática e química - em música e física, um desastre, conforme seu boletim da 4ª série. Desde então é um grande desportista, brilhando nos tabuleiros da Olimpíada Universitária de 1948, Aí já terminara os estudos secundários, em 1946, e a família se mudara para Buenos Aires. Pensava em estudar engenharia, mas a morte da avó, à qual era muito ligado e de quem assiste à morte, leva-o a decidir-se pela medicina.

Aos dezoito anos alista-se no serviço militar obrigatório, mas é dispensado por causa da asma, sorte para um jovem de família antiperonista ( o exército argentino era então o grande reduto de Perón ).
Namorador, atrevido e divertido, não pertenceu a nenhuma organização estudantil. Sempre foi relaxado com roupas, camisa fora da calça, sapatos desamarrados e um fascínio por viagens o levaria, em 1949, aos 21 anos, a percorrer, mochila às costas, o norte argentino numa bicicleta motorizada que ele próprio desenhou e construiu.

Em Dezembro do ano seguinte, inscreve-se como enfermeiro da marinha mercante Argentina e viaja em petroleiros e cargueiros para vários países, inclusive o Brasil.
Em 4 de Janeiro de 1952, com 23 anos e a dois anos de sua formatura como médico, lançou-se com Alberto Granado, o melhor amigo em uma aventura pela América Latina, 10.000 quilómetros, numa Norton 500 que apelidou de "La Poderosa II". Durante oito meses, percorreram cinco países e a aventura marcou sua ruptura com os laços nacionais. Para pagar as despesas de viagem, trabalharam como carregadores, lavadores de prato, marinheiros e médicos, o que já revelava sua coragem, espírito de independência e desprezo pelo perigo. Foi a partir dessa viagem, que começou a se sentir e se expressar como um latino-americano e não apenas como argentino, quando viu o desamparo, a exploração e a miséria como traço característico do nosso continente. Quando voltou, escreveu em seu "Diário de Viagem" (Livro publicado em enches no ano de 1970) "Já não sou mais o mesmo". Talvez a sua viajem pelo continente tivesse mostrando-lhe a pobreza dos seus vizinhos....

Vai a Machu-Pcchu, vai navegar o Amazonas de balsa, vai atravessar o deserto de Atacama, conhecerá mineiros comunistas e povos indígenas. Dessa viagem ficará um diário que vai virar grande recesso editorial e pelo qual se nota sua crescente politização e o choque que lhe provocam a pobreza, a injustiça e a arbitrariedade que encontrou pelo caminho. O hábito de escrever diários irá acompanhá-lo até seus últimos dias, na Bolívia.
Em Agosto de 1952 decide regressar a Buenos Aires para terminar o curso de medicina, formando-se pela Universidade Nacional de Buenos Aires em Junho de 1953 como especialista em alergia e após fazendo doutorado.

Não deixa passar um mês e já pega a estrada, dessa vez com outro amigo, Calica Ferrer. Foi trabalhar em diversos países, na ânsia de descobrir a cura para a sua terrível doença, a asma, que o atormentava desde pequeno. Está com 25 anos e não voltará mais para a Argentina.

Rumou para a Venezuela, com parada na Bolívia por ficar mais barata a passagem do trem, onde ficara seu amigo Granados, para trabalhar na pesquisa da lepra, conheceu o advogado argentino Ricardo Rojo (Autor do livro Meu Amigo Che), que estava refugiado naquele país, por sua actividade política antiperonista. Rojo lhe fez um convite decisivo: "Para que queres ir a Venezuela, um país que só serve para ganhar dólares? Vem comigo a Guatemala, porque ali vai ter lugar uma verdadeira Revolução Social" .

Fica cinco semanas em La Paz, estuda os intentos de reforma agrária, e assiste ao país vivendo o primeiro ano do governo reformista de Paz Estensoro, o que valerá a Che um aprofundamento político que os biógrafos consideram de vital importância para seu amadurecimento, embora venha depois a desencantar-se com os rumos tomados pelo governo dito revolucionário.

Che desembarcou na Guatemala a 24 de Dezembro de 1953, acompanhado de Rojo e do Dr. Eduardo Garcia, também exilado argentino. Na Guatemala, o presidente Jacobo Arbenz Guzmán desenvolvia um governo Revolucionário do qual Che participou através do Instituto Nacional da Reforma Agrária.

Tentou formar um grupo armado para organizar a resistência contra a invasão norte-americana. Passa pela Costa Rica, onde faz contactos políticos e onde sua vida começa a dar guinadas definitivas: conhece em San José dois cubanos exilados que haviam escapado da célebre tentativa de tomada do Quartel Moncada, em 26 de Julho de 1953. Os dois lhe contam a espectacular porém malograda acção de Fidel Castro buscando derrubar a ditadura de Fulgencio Batista a partir do assalto ao quartel da segunda maior cidade cubana, Santiago.
Fica amigo dos dois -Calixto García e Severino Rossel, e com eles irá para a Guatemala, onde será apresentados a outros cubanos, no final de 1953. Guevara está então com 26 anos, é admirador da URSS e deseja se inscrever a um partido comunista de qualquer país que seja, enquanto trabalha como médico para sindicatos guatemaltecos, reunido ainda mais experiência à sua sólida bagagem ideológica.
Vai permanecer quase nove meses na Guatemala e conhecer Hilda Gadea marxista convicta, militante política peruana que mais tarde tornará sua primeira mulher. Passa apertos, não consegue exercer a medicina, e tem de vender enciclopédias de porta em porta. O país está passando por grande reforma, conduzida pelo presidente eleito (era o segundo na história) Jacobo Arbenz, que iniciara um amplo programa de reforma agrária expropriando as terras da poderosa empresa norte-americana United Fruit Company. Ao tocar nos interesses da empresa é derrubado do poder por iniciativa de Washington e com o apoio da OEA, em Junho de 1954.

A 18 de Junho de 1954, mercenários pagos pelos americanos invadem o país processando um golpe militar que derruba o governo constitucional de Arbenz e instala a ditadura do coronel Castillo Armas, fiel aos interesses exportadores da United Fruit, cujas terras são devolvidas. Segundo alguns autores, esta experiência será decisiva na definição política de Guevara. Ele teria de sair imediatamente da Guatemala, pois tinha sido condenado à morte por ter apoiado o regime anterior.

Che, por sua actuação nos sindicatos, é informado de que corre perigo e se asila na embaixada Argentina. Hilda é presa, mas logo é solta e ambos sairão legalmente do país.
Tomaram a decisão de ir para o México, com Hilda já grávida, lá se casam em Agosto de 1955 e têm uma filha, Hilda Beatriz, Hildita.
No México, onde vai ganhar o apelido de Che, por usar a expressão sempre que fala com os outros, Guevara compra uma máquina fotográfica e começa a ganhar a vida fotografando turistas nas ruas da capital, Cidade do México. E é até contratado por uma agência noticiosa Argentina para cobrir os Jogos Pan-americanos de 1955, que se realizam no País. Ao mesmo tempo, escreve artigos científicos sobre sua especialidade, alergia.
Em Junho, é apresentado a Raul Castro, líder estudantil cubano recém-saído da prisão em Cuba. Poucos dias depois chega o irmão de Raul, Fidel, em 8 de Julho de 1955, que Raul apresenta a Che. Fidel passaram um ano e dez meses preso na ilha de Pinos, Cuba, pelo episódio do Quartel Moncada. Fora amnistiado por Batista, a quem derrubaria, com Che, Três anos depois. Chegava ao México para dali dar início à insurreição contra a ditadura em Cuba, instalada desde o golpe militar de 1952.
O treino para a luta armada em Cuba começa no México e Guevara se inscreve em Setembro, dois meses após conhecer Fidel.


Na madrugada do dia 25 de Novembro com Fidel Castro e os exilados cubanos do "Movimento 26 de Julho" para combater a ditadura de Batista., zarpa do porto mexicano de Tuxplan o iate Granma, com capacidade para vinte passageiros, levando 82 guerrilheiros, entre eles Che Guevara, encarregado de atender os eventuais feridos no desembarque em Cuba.

Junto com mais 18 homens, organizaram e penetraram em Sierra Maestra, na ilha de Cuba para no ano de 1959, tomar a cidade de Havana e, de uma vez por todas por fim ao imperialismo norte-americano que habitava a pequena ilha.

Desembarcam no dia 2 de Dezembro, e três dias depois são cercados e atacados pelos soldados numa emboscada, sobrando apenas 12 homens.

Foi um dos doze sobreviventes que por méritos de guerra foi nomeado comandante.

Estes conseguem refugiar-se em Sierra Maestra onde tomam contacto com os camponeses e a guerrilha se multiplica e ganha prestígio, tanto dentro como fora de Cuba, obtendo inúmeras acções vitoriosas contra as tropas do governo. Em 1957 Che é nomeado comandante da 2ª Coluna ( Ciro Redondo) . Invadiu Las Villas e, após atravessar toda a ilha, junto com a coluna de Camilo Cienfuegos, em 1 de Janeiro de 1959, Guevara toma a cidade de Santa Clara e em 8 de Janeiro, Fidel Castro entra triunfalmente em Havana.

As relações entre o governo de Fidel e os EUA tornam-se tensas a partir do momento que este tenta diminuir o domínio norte-americano sobre a economia cubana. Em Abril de 1961 a CIA invadiu Cuba com um exército de mercenários e refugiados cubanos. Esta invasão à Baía dos Porcos resulta num fracasso total.

Os E.U.A estabeleceram um embargo económico junto á mesma para que se fosse encerrada a Revolução. Mas nada disso aconteceu. Com a ajuda da URSS, Cuba foi se protegendo.

Em 1959 ocupou o cargo de director do Instituto Nacional de Reforma Agrária e posteriormente o de presidente da banca nacional, o de responsável pelas finanças do país, chefe do banco central cubano.

Em 19 de Agosto de 1961 de passagem pelo Brasil é condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul pelo então presidente Jânio Quadros que renunciaria uma semana depois.

Che transfere-se para a direcção do Ministério das Indústrias(1961-1965). Discursa numa reunião da OEA em Punta del Este e denuncia o imperialismo americano e seus aliados.

Fidel declara-se socialista e aproxima-se da URSS recebendo dela mísseis nucleares que poderiam atingir os EUA, é a "crise dos mísseis" de 1962, Kennedy ordena o bloqueio de Cuba pela Marinha e ameaça invadi-la. Sem consultar os cubanos, os soviéticos retiram os mísseis. Durante todo este período Che escreve e publica suas principais obras. Em 11 de Dezembro de 1964 discursa na ONU onde oferece o apoio de Cuba para as lutas de libertação no Terceiro Mundo.

Mas como ele mesmo dizia, era , para ele , impossível ficar sentado em uma sala fechada, Che representando o governo revolucionário parte para a África onde toma conhecimento dos movimentos de libertação nacional africanos. Realizou varias viagens por países afro-asiáticos e socialistas (Checoslováquia, U.R.S.S., China popular, etc.). Presidiu a delegação cubana na Conferencia de Punta del Este (1961) e no seminário de planificação de Argel (1963). Após uma volta pela África negra onde combateu pelo comunismo, volta a Cuba, e desaparece da vida pública e, poucos meses depois, Castro veio a conhecer sua renúncia a todos os cargos e sua partida da ilha. Após uma estadia no Congo como instrutor das guerrilhas de Sumialot e Mulele (1965-1966), em Setembro de 1966 Che chega à Bolívia para estabelecer um centro de treino de guerrilha, onde deveria servir de quartel-general tanto para revolucionários bolivianos quanto para aqueles que iriam chefiar revoluções em países vizinhos. A posição boliviana era estratégica pois ocupava geograficamente o centro do continente sul-americano. Uma série de desentendimentos entre o PC boliviano e a guerrilha faz com que o primeiro retire o seu apoio, deixando Guevara e seus homens completamente isolados.

Foi dizimado pelo exército dirigido e apoiado pelos Rangers norte-americanos. Em 8 de Outubro é ferido em combate em "la Quebrada del Yuro" Bolívia no dia 9 é executado covardemente por oficiais Bolivianos (Patrocinados pela CIA - Estados Unidos).

Em 18 de Abril de 1967 é publicado em Cuba a mensagem de despedida de Che, após ter se tornado um líder para os cubanos e um dos responsáveis pela vitória da revolução.

Em 29 de Junho de 1997, seus restos mortais são encontrados, em uma fossa em Vallegrande junto com mais 6 guerrilheiros.

Ao 12 de Julho de 1997 é recebido no aeroporto de "San António de Los Baños" por sua família e companheiros. Os restos de Che descansarão temporariamente na sala Granma do Ministério das Forças Armadas e serão levados em Outubro a um mausoléu na Praça Ernesto Che Guevara em Santa Clara.

Suas acções e ideias tiveram um papel fundamental nas lutas do Terceiro Mundo para libertarem-no do jogo do imperialismo e a modificação para tornarem melhores as estruturas socioeconómicas vigentes. As ideias e a prática de Guevara abrangem um amplo espectro da vida política contemporânea

Desabafos de um Moribundo

“Desabafos de um moribundo"

Escrevo estas linhas depois de ter sido fulminado com a notícia de que tenho um cancro nos pulmões já espalhado ao fígado. Escolho o anonimato por medo de ser mal tratado ou da minha família poder vir a sofrer retaliações. Não será difícil descobrir quem sou. Nesta terra tudo se sabe... Mas a razão do meu desabafo é devida ao facto de só agora ter sentido na pele, do modo mais arrepiante, que o maior valor que temos é a saúde e que, nesta. Ilha que tanto amo, a saúde tornou-se um negócio sórdido que despreza qualquer réstia de dignidade humana.

A administração da Saúde tem por base o enriquecimento de vários protagonistas não sendo nenhum deles a pessoa doente. Nesta Ilha a clínica privada limita-se aos consultórios, assistência a lares de idosos, convenções com algumas Instituições como os Bombeiros, as Touradas, Forças de, Segurança, a Clínica da Praia da Vitória e pouco mais. Em qualquer dos casos os rendimentos são parcos de modo que a grande fonte de rendimento é o Hospital. O Hospital funciona como extensão da clínica privada, seja para operar doentes, seja para realizar análises, exames, ou mesmo para engrandecer o ego como a criação do Instituto de Genética, Se compararmos os custos que este instituto acarreta com os benefícios para a população, facilmente entendemos a sua inutilidade. No Hospital o grande objectivo dos seus funcionários é arranjarem esquemas que aumentem os seus ordenados de modo substancial. E o grande esquema é as horas extraordinárias durante a carreira normal e a realização de contratos após a reforma. Outro esquema, que só dá para alguns, é o Serviço de evacuação de doentes. Deste Serviço fazem parte médicos e enfermeiros que ninguém sabe como são seleccionados e que escolhem horários onde acumulam as duas tarefas. Não é possível estar em dois sítios simultaneamente. Por isso é normal interromper-se o trabalho no Bloco Operatório para realizar uma evacuação. Há doentes com cancro que vêem a sua cirurgia adiada para o Anestesista ir evacuar um doente com uma dor abdominal da Ilha de Santa Maria para S. Miguel. Um dos enfermeiros, o Enfermeiro Brasil, que faz parte deste grupo, já teve um enfarte com 3 paragens cardiorrespiratórias, sem condições físicas, e continua a fazer evacuações. Em relação às horas extraordinárias o grande objectivo é conseguir ter uma prevenção total, ou seja, todos os minutos do dia serem pagos a 50% do valor da hora extraordinária. O único dermatologista do mundo que tem uma prevenção mora aqui, na Terceira, o Dr. Elias Ribeiro. Para se ter uma ideia, O salário sem prevenção são 5000 euros e com prevenção são 15000 euros, líquidos. Todos os médicos de qualquer Hospital sabem que urgências de Dermatologia não existem. No Serviço de Pediatria criaram-se duas prevenções: uma para atender ao Serviço de Urgência e outra para dar assistência aos recém-nascidos. Na prática fica apenas um Pediatra de chamada mas assinam-se duas folhas diferentes para tudo ficar com melhor aspecto. Há especialidades onde certas patologias são pura e simplesmente ignoradas como na Ginecologia e Obstetrícia. Neste Serviço, dirigido pela Dra. Maria Armas a ginecologia não existe. As doentes são arrastadas em consultas até chegarem a uma situação em que pouco já se pode fazer para além de se resignarem com a morte iminente. Nos casos mais flagrantes, ou seja pessoas que podem protestar, pedem ao Dr. Paím para as operar ou então, através do Serviço de Oncologia são enviadas para o continente, quer para o IPO, quer para instituições privadas. Nos outros casos, são-lhes marcadas consultas que vão sendo adiadas de forma sistemática de modo a não terem uma lista de espera superior a 3 meses. As redes de conexão são simples. Os Directores dos Serviços de Obstetrícia e Oncologia são irmãos. A Directora do Serviço de Anatomia Patológica esposa do Director do Serviço de Oncologia e irmã do Director do Serviço de Dermatologia. E de tudo isto a Administração do Hospital e o Secretário da Saúde têm conhecimento; foi esta administração que atribuiu a prevenção à Dermatologia, que autoriza os pagamentos dos tratamentos em Instituições privadas, que celebrou contratos com médicos já reformados como o Dr. Rocha Lourenço, o Dr. Vasco Aguiar e o Dr. Alberto Rosa, que autorizaram a deslocação periódica dos Drs Brasil Toste e João Martins, do Serviço de Otorrinolaringologia, a S. Miguel, para realizarem consultas e operações, sendo pagos por doente, e sem descontarem um minuto no horário normal do Hospital de Angra. Também aqui as Conexões são simples: o Sr. Secretário quando era apenas Clínico Geral, fazia um banco à sexta-feira. Mais do que o dinheiro que ganhava era um modo de ter acesso aos meios do Hospital para os seus doentes da privada. A chefe de equipa de sexta-feira era a actual Directora do Hospital que é esposa do Dr. Brasil Toste. Em relação ao Dr. Paím, o caso é mais caricato. Pessoa inconformada por natureza, criou muitos inimigos quando foi Director do Hospital. Um dia o azar bateu-lhe à porta; uma doente teve uma hemorragia de difícil controlo durante uma intervenção e morreu no pós-operatório apesar de ter sido evacuada para S. Miguel e depois para Lisboa. O irmão da doente, o Engenheiro Data Franco, instigado pelo Dr. Duarte Soares (que esteve na sala de operações mas tentou por todos os meios apagar esse facto) e pelo Dr. Jácome Armas (que lhe forneceu pormenores do que se passou em S. Miguel e Lisboa) recorreu aos tribunais documentado com informações compiladas pelo Dr. Carlos Lima e pelo Dr. João Leal. O caso arrastou-se durante 7 anos em tribunal com despesas que ultrapassaram os 125000 euros. Durante este período o Sr. Secretário nomeou o Dr. Jácome Armas para Director Clínico apesar de ter tido conhecimento do abaixo' assinado em que 90 % dos Médicos do Hospital pediam a continuidade do Dr. Mário Toste. O período na Direcção Clínica foi Curto, mas suficiente para, numa manobra rocambolesca, nomear o Dr. Paim Director do Serviço de Cirurgia Geral e conseguir pôr sob a alçada do Hospital o Instituto de Genética cuja utilidade e necessidade não se compreendem e tem gastos astronómicos. Tudo isto por trás da fachada de conseguir uma máquina de litotrícia, abençoada pelo clero e inaugurada pelo Presidente do Governo Regional, que actualmente só funciona uma vez por semana e trata apenas 3 doentes por semana. Como se imagina o Dr. Paim ficou reconhecido ao Dr. Jácome prestando-se a dar todo o apoio à sua irmã e a população encheu o peito com orgulho por ser a primeira Ilha a ter tal Máquina. Claro que ainda hoje há pessoas que acordam de noite, a suar, com medo que o Dr. Paim descubra toda a verdade. Ainda em relação às prevenções assiste-se a situações caricatas como haver um único especialista nos cuidados intensivos, com mais de 60 anos, hipertenso, diabético e com problemas cardíacos, contratarem-se especialistas de endocrinologia, oncologia, anatomia patológica, radiologia, bem pagos, por doente, enquanto se oferecem contratos ridículos aos recém especialistas que, ao abrigo do protocolo, vêm trabalhar para a região mas acabam por voltar para o continente onde são melhor remunerados e respeitados. Tudo para manter inalteradas as horas extraordinárias dos especialistas do costume. Ou ainda o caso das análises clínicas em que o Director do Serviço trabalha em exclusividade mas desvia os exames para a privada onde tem laboratórios no nome da mulher; tudo legal, talvez, mas muito pouco ético. Ou ainda o contrato com um Cirurgião Plástico que faz sobretudo cirurgia estética enquanto o tratamento da obesidade mórbida não passou de um ensaio. Ou ainda, enfim, muito haveria para Contar. Penso que uma qualquer entidade reguladora da saúde deveria fiscalizar o nosso Hospital de modo a impor-se a legalidade mas, muito mais importante, permitir a sua abertura a gerações mais novas, sem vícios, de modo a valores como Humanidade e respeito pelo Ser Humano Doente serem uma realidade. Já não terei tempo para esta luta mas viverei o resto do meu tempo com a esperança de que alguém se comova e lute por estes princípios. Bem haja.”

Anónimo

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